Na roça, uma família dominada pelo pai que não quer saber de Deus, igreja…
Esposa e filhas tentam, várias vezes, levar o pai a aproximar-se de Senhor…
A força da oração e da fé, abrem as portas do coração do paiCenário Sala de uma casa típica de interior
Personagens
Maria,
João,
Maria Cremilda e
Crianças (quantas ditar propícia)
NARRADOR: (canta em forma de cordel)
Hoje venho pra contar a história do João
que é bravo pra daná
e não aceita nada não.
Sr. João é da fazenda
e não tem estudo não,
não sabe lê nem escrevê
e não “conhece” religião.
(No centro do palco se encontra João e Maria sentados em cadeiras.)
JOÃO: Meu nome Jão,
essa é minha muié Maria, nóis tem duas fiá (entram várias crianças) duas dúzia.
BLACKOUT(Entra Sr. João)
JOÃO: Oh muié, ara…
Que fome!
Oh muié, meu bucho tá vazio,
daqui a pouco ele arria por baxo.(Entra Maria)
MARIA: Carma Jãozinho, aqui óia.
Arroiz com cardo de arroiz.
Delícia… (lambendo os beiços)
(Enquanto João come Maria rodeia a mesa inquieta.)
JOÃO: Ara muié, que tá arrodiando a mesa ingual urubu?
Se ocê tá cum fome vai pega pru’cê.
MARIA: Num é nada disso homi…
É que…
A Dona Cremilda chamo eu pra i na ingreja hoje e …
JOÃO: Já vem ocê cum essa história de novo…
Já falei pru’cê muié que num vai em lugá ninhum.
Ocê tá me achando com cara de mula é?
MARIA: Ara Jãozinho, que mula nada…
Ocê é um toro, forte e valente.
JOÃO: Nem vem adula muié, ocê que faze u que nessa tar di ingreja hein?
Já vi as muié ingual potranca dançando e cantando lá…
Tu tá querendo apronta né muié?
MARIA: Ara Jãozinho, pára homi.
Se sabe que num é assim…
JOÃO: Sei de nada não.
MARIA: Mas é claro, num vai a ingreja…
JOÃO: Tenho mais o que faze muié…
MARIA: Jãozinho… Eu levo as crianças… E ocê fica descansando…
JOÃO: Já disse que não muié, ocê num vai ensina essas coisas pras minha moça.
Num quero vê minha muié e minhas moça na rua.
MARIA: Mas Jãozinho eu num vô tá na rua… Vô tá na ingreja.
JOÃO: Pió ainda.
MARIA: Óia aqui Sr. João, eu num saí da cidade pra…
JOÃO: Ara muié, óia como fala…(Maria abaixa a cabeça)
JOÃO: Até perdi a fome.(Maria pega o prato e quando vai saindo vê sua filha escondida)
MARIA: Escutando conversa outra vez né?
MARIA CREMILDA: O pai é muito chato…
MARIA: Óia o respeito menina…
MARIA CREMILDA: Eu respeito mãe, mas…
MARIA: Já tá tarde Maria Cremilda, vá drumi…
(Quando a mãe vira as costas Maria Cremilda)
MARIA CREMILDA: Hoje eu fui na igreja…
MARIA: Ara menina… Desobedecendo seu pai?
MARIA CREMILDA: Eu tava indo estuda e ouvi eles cantarem e dizerem bem alto:
Deus é lindo…
Quem é Deus mãe?
Ele mora aqui perto?
MARIA: Ele mora mais perto do que ocê imagina…
MARIA CREMILDA: E a senhora nunca me apresentou ele?(João entra aos gritos)
JOÃO: Ara, Ara… O que ocês duas taum fazendu?
Taum de trelele á essa hora?
Vaum pru quarto agora.(João puxa Maria Cremilda)
JOÃO: To cansado de ensinar moça minha a ser prendada, moça minha não fica pelos cantos carcarejando…
MARIA CREMILDA: O Sr. não quer aceitar a realidade pai…
JOÃO: Ara menina e oque ocê sabe de realidade?
Ocê não entende nada…
Nem da sua própria vida.
MARIA CREMILDA: Eu entenderia muito mais se ocê me deixasse í na ingreja pai.
JOÃO: Se ocê não pará de falação vô te cafofa menina…
Sua mãe já enchendo sua cabeça de caraminhola.
MARIA CREMILDA: Eu vejo a ingreja cheia de gente pulando, dançando…
Eles sim são felizes.
JOÃO: Eles são assanhados isso sim.
MARIA CREMILDA: Não são não pai.(começa a chorar)
JOÃO: Já disse pru ce não retruca menina…
E pára de choro, já é hora de moça minha tá na cama.
(Saem cada um para um lado…)
(Luz baixa…)
(Luz alta…)
(Carcarejo de galo)
MARIA CREMILDA: Vamos meninas, vamos atrasar.
JOÃO: Leva suas fia Maria.(João sai por um lado Maria e as crianças por outro.)
(Na estrada…)
MARIA CREMILDA: Mãe, vamos passar pertinho da ingreja.
Vamos dar uma entradinha?
MARIA: Não menina, seu pai num ia gostá…
MARIA CREMILDA: Mas ele num ia nem saber…
Vamo mãe.
(Maria Cremilda puxa a mãe pra dentro da igreja e as irmã correm atrás)
UMA DAS IRMÃS: Cadê o homi pelado que ocê viu?
MARIA: Ara menina, óia o respeito dentro da ingreja.
MARIA CREMILDA: Num sei. Psiuuu!
(Menos de um minuto depois Maria puxa as filhas)
MARIA: Vamu, já tá tarde.
MARIA CREMILDA: Mas mãe nem terminei.
(Maria sai puxando as filhas)
(Maria em casa varrendo e escutando música sertaneja num radinho á pilha.
Olha para os dois lados e muda a rádio sintonizada.
Ao ouvir uma música agitada de igreja começa a dançar.
No auge de sua empolgação João entra furioso e desliga o som.)
JOÃO: Ocê tá ficando atrevida igual muié de ingreja.
MARIA: Eu só tava…
JOÃO: Dançando…
Eu ví.
MARIA: Mas era pra Deus…
JOÃO: Ocê lá conhece Deus… Cê nem sabe se ele é bão ou não…
MARIA: Sei sim Jão, e ocê também sabe…
Sabe que ele morreu na cruz por nós.
JOÃO: Por acaso ele ia ser mula de morrer por nós?
Isso é tudo mentira.
MARIA: Pára Jão, você sabe que num é assim.
Ocê sabe tudinho da vida dele.
JOÃO: Sei mas não queria nem saber.
E ocê num vai ficá ensinando essas coisas pra minhas moça.
MARIA: E por quê não João?
JOÃO: Ara muié, não quero que elas sofram…
MARIA: Pára de bobeira homi…
Deus não faz ninguém sofrer, muito pelo contrário.
JOÃO: E por que ele me fez entaum?
Levô meus pais e me deixo na miséria…
MARIA: Ocê só não sabe a resposta por que nunca perguntou pra ele.
JOÃO: Não quero mais papo com esse tar de Deus.
MARIA: Não adianta cê fugi Jão, se ocê não encontra cum ele aki ocê vai encontra lá no cer.
(João abaixa a cabeça)
MARIA: Ocê é um homi bão de coração.
Por isso nunca desisti de ocê.
É esse tar de Deus que ocê diz é que num deixô eu te largá.
Se ocê dé uma chance pra Deus faço uma canjiquinha pru`cÊ.
Que tar?
JOÃO: Ara muié…(bravo)
MARIA: Ara Jãozinho.
(carinhosa e o acariciando)
(João anda para um lado e para o outro enquanto Maria o olha com carinho.)
(João pára no centro do palco.)
JOÃO: Tá bom muié, mas ocê que num faiz minha canjica pra vê…
MARIA: Craro que faço Jão.
NARRADOR: (canto em forma de cordel)
Sr João foi vencido pela oração de Maria,
seu coração amolecido
e sua fé fortalecida.
MARIA: (canto cordel)
A paciência é o Dom divino
que Jesus me cedeu e
hoje tenho o marido
que a mim prometeu.
CRIANÇAS: (canto cordel)
O coração do meu papai Jesus converteu
e o que era impossível hoje mesmo aconteceu.
(Silêncio, todos olham para João.)
JOÃO: Ara, ocês já querem demais.
FIM