A LEBRE E A TARTARUGA NA CAMINHADA CRISTÃ

A Lebre e a Tartaruga
Lições de empenho, humildade, comprometimento com a obra do Senhor.
Comédia mostrando situações e contradições do envolvimento com a obra do Mestre.
Um desafio a entendermos a nossa parte neste trabalho.PERSONAGENS:
BETO-TARTARUGA
ZÉ-LEBRE


ATO I
CENÁRIO: Um bosque. Zé Lebre. está deitado à sombra de uma árvore. Ele está em meio a um cochilo.
(Entra em cena Beto-Tartaruga. Ele se aproxima a passos lentos. Zé Lebre. acorda-se.)
ZÉ-LEBRE: (Levanta-se num salto e vai até Beto-Tartaruga) Quem é você?
BETO-TARTARUGA: (Sem jeito) Desculpa! Estou invadindo algum território alheio?
ZÉ-LEBRE: Não! Desculpe-me se eu o assustei. Eu só estava querendo puxar conversa.
BETO-TARTARUGA: Ah bom! Meu nome é Alberto de Lima Tartaruga. Me chamam Beto-Tartaruga.
ZÉ-LEBRE: (Resmungando) Seria pela sua destreza nos movimentos?
BETO-TARTARUGA: O que?
ZÉ-LEBRE: N-nada! (Estendendo-lhe a mão) Meu nome é José Lebre da Silva. (Apertando-lhe a mão)
Prazer! Pode me chamar de Zé Lebre. O homem mais rápido de toda região. Posso ir e voltar sem você notar (dá uma piscada maliciosa para Beto-Tartaruga). Gostaria de ser igual a mim?
BETO-TARTARUGA: Hum…
ZÉ-LEBRE: (Sem aguardar a resposta) (Convencido) Todos gostariam.
BETO-TARTARUGA: Eu não consigo. Se bem que até prefiro ir devagar. Conhecer o território. Garantir
meus passos, sabe?
ZÉ-LEBRE: Na obra do Senhor não dá para agir com a tua lerdeza.
BETO-TARTARUGA: Eu continuo sustentando que prefiro conhecer o território. Garantir os meus passos.
ZÉ-LEBRE: Para o Senhor o melhor. Eu sou o melhor na guitarra. Sou o melhor vocal, meu microfone
precisa ressaltar o meu dom. Todos tem que reconhecer que sou bom, para que eu possa me sentir
motivado a continuar participando do louvor.
BETO-TARTARUGA: Eu não penso assim.
ZÉ-LEBRE: Está duvidando de meu dom?
BETO-TARTARUGA: Não. Só não concordo com a maneira que você enxerga as coisas. Numa orquestra,
por mais que meu instrumento seja… aqueles pratos. E que as minhas batidas sejam quase que
imperceptíveis, sei que sou importante para a execução do concerto, por isso tenho fazer da melhor
maneira possível.
ZÉ-LEBRE: Você, fatalmente, será ofuscado pelos violinos, trombones, contrabaixos, e outros ainda. Acho
que você não entendeu como as coisas funcionam. (Pequena pausa) Estou fazendo um curso de Teologia. Vou ser missionário. Sinto que as almas estão me chamando. E você, Tartaruga?
BETO-TARTARUGA: Oi?
ZÉ-LEBRE: O que está fazendo para o Senhor?
BETO-TARTARUGA: Sou diácono.
ZÉ-LEBRE: (Sarcástico) Diácono? O que faz um diácono?
BETO-TARTARUGA: Não tenho muita destreza… mas estou tentando fazer a obra. Zelo pela casa do
Senhor. Muitas vezes faço serviço braçal. Não tenho medo de me sujar. Tiro pó dos bancos, ajudo a
acomodar os visitantes que chegam, já ajudei a varrer o chão e até o banheiro já limpei.
ZÉ-LEBRE: Banheiro? Ui que nojo! Acredito que até o pastor veio te agradecer.
BETO-TARTARUGA: Não.
ZÉ-LEBRE: Que ingrato! E os irmãos?
BETO-TARTARUGA: Na verdade naquela hora a igreja estava deserta. Quase ninguém ficou sabendo.
ZÉ-LEBRE: (Censurando-o) Mas você não sabe viver, mesmo. Você é lento até de raciocínio. Essa seria
sua chance de ser promovido. Quem não é visto não é lembrado.
BETO-TARTARUGA: Pelo visto nossos ideais não casam. Eu acho que mais importa agradar a Deus do que os homens.
ZÉ-LEBRE: Quando chegarmos ao céu veremos quem terá o maior galardão? (Noutro tom) Vamos competir?
BETO-TARTARUGA: A vida espiritual não é brincadeira.
ZÉ-LEBRE: (Não dando importância ao que Beto-Tartaruga diz) Uma “competição santa”.
BETO-TARTARUGA: Acredito que isso não vai agradar a Deus.
ZÉ-LEBRE: O que iremos fazer é em prol o crescimento do reino do Senhor.
BETO-TARTARUGA: Eu não topo.
ZÉ-LEBRE: (Pegando na mão do outro para fechar a aposta) Eu também topo.
BETO-TARTARUGA: Eu disse “não”.
ZÉ-LEBRE: Está com medo? Mas agora já é tarde demais. Nossa aposta já está valendo. Tchau! (Sai de
cena na “velocidade do coelho”) As almas estão me esperando. Até o pódio.
BETO-TARTARUGA: Mas como ele é ingênuo. Acha que a vida espiritual é uma brincadeira. (Dando alguns lentos passos até a saída) Eu vou continuar a fazer as coisas como faço, sei que um dia Deus vai me recompensar. Mas o que me importa mesmo é estar com Jesus. Pena que o Zé não enxergue isso. Agora vou indo. A caminhada ainda é longa.
(Cortina.)

ATO II

CENÁRIO: Bosque. Zé Lebre. descansa à sombra de uma árvore. Está cochilando.
(Entra em cena Beto-Tartaruga com uma vassoura e um balde. Ao perceber a presença de Zé Lebre.,
aproxima-se dele.)
BETO-TARTARUGA: Quanto tempo, irmão!
ZÉ-LEBRE: (Levantando-se num salto. Bate continência) Eu não estava dormindo, senhor. (Despertando)
Ah é você! Sonhei que estava de volta ao exército.
BETO-TARTARUGA: Mas estamos numa guerra.
ZÉ-LEBRE: É claro que eu sei.
BETO-TARTARUGA: E não consegue vigiar?
ZÉ-LEBRE: (Fazendo muxoxo) Onde vai com isso?
BETO-TARTARUGA: Para a igreja.
ZÉ-LEBRE: Com vassoura? Não roubou a coitadinha da bruxa, roubou?
BETO-TARTARUGA: Sou um dos escalados para a limpeza do salão hoje.
ZÉ-LEBRE: Você continua nessa vidinha. Você já pensou em fazer faculdade?
BETO-TARTARUGA: O que tem a ver faculdade com limpeza da igreja?
ZÉ-LEBRE: Se você tivesse faculdade não te colocariam em serviços braçais.
BETO-TARTARUGA: Meu amigo, faço porque gosto.
ZÉ-LEBRE: O que você faz da vida? É faxineiro?
BETO-TARTARUGA: Não. Quanto a faculdade, sou formado em Administração de Empresas. Conhece a
Tartaruga’s Têxtil?
ZÉ-LEBRE: Claro que conheço. Quem não conhece? A maior indústria têxtil desse país. (Procurando a
etiqueta da camisa a qual está vestido) Esta camisa foi feita lá. Paguei os olhos da cara nela. Só que valeu a pena, é artigo de primeira. Mas o que que tem a ver tua faculdade com a Tartaruga’s? Ah, já sei! Você é faxineiro-chefe de lá?
BETO-TARTARUGA: Digamos que meu cargo é um pouquinho melhor. Sou o presidente.
ZÉ-LEBRE: Seria o presidente do sindicato dos faxineiros?
BETO-TARTARUGA: Eu sou o dono da Trataruga’s Têxtil. Eu fundei essa empresa.
ZÉ-LEBRE: Presidente? Não estou entendendo. Como você aceita ser confundido como faxineiro de
igreja? Porque não paga para um funcionário de sua empresa fazer esse serviço.
BETO-TARTARUGA: Longe de mim oferecer a Deus algo que não me custe nada. Foi ele que me colocou
no topo. Estou ciente que permanecerei lá enquanto Ele desejar. Por isso prefiro que as pessoas nem saibam em que trabalho. Como já falei, prefiro fazer a obra de forma silenciosa. Eu prefiro esquecer minha posição social.
ZÉ-LEBRE: Hum! Se você gosta de agir dessa forma… Mas o que você tem feito para o Senhor?
BETO-TARTARUGA: Continuo agindo nos bastidores.
ZÉ-LEBRE: (Estufando o peito) Eu irei para o estrangeiro. Vou ganhar a África para o Senhor. Já sou
missionário, sabia?
BETO-TARTARUGA: Que bom! Parabéns!
ZÉ-LEBRE: Obrigado!
BETO-TARTARUGA: Que bom seria se mais pessoas ouvissem o chamado. Quando foi que sentiu o hamado de Deus?
ZÉ-LEBRE: Quando?… ah sim, o chamado. Foi especial. (Desconversando) Embarco no final do mês. E lá
vem mais algumas pedrinhas para minha coroa. Acho que não vai haver espaço para tantas. Nossa
corrida para o céu continua.
BETO-TARTARUGA: Você continua pensando nisso? Isso ainda vai te levar a ruína. (Pausa) Isso ainda vai
te levar a ruína. Agora vou andando. (Avança até a saída)
ZÉ-LEBRE: Tartaruga.
BETO-TARTARUGA: O que foi?
ZÉ-LEBRE: (Sarcástico) Deixe o chão bem limpinho, viu! (Dando gargalhadas) Há! Há! Há!
(Beto-Tartaruga finge que não ouve e sai de cena.)
ZÉ-LEBRE: Um administrador que não sabe administrar o tempo. Fica ocupado com coisas desprezíveis
enquanto temos o mundo para ganhar.
(Cortina.)

ATO III

CENÁRIO: Bosque. Beto-Tartaruga está descansando a sombra de uma árvore. Ele está lendo a Bíblia.
(Entra em cena Zé Lebre. Ele faz como se tivesse planos de ir para sombra da árvore. Quando percebe
que o lugar já está ocupado fica desapontado. Ao perceber que é Beto-Tartaruga quem está lá, tenta fugir.
Na pontinha dos pés tenta voltar pelo caminho por onde tinha vindo.)
BETO-TARTARUGA: (Sem tirar os olhos da Bíblia) Zé Lebre., é você quem está aí?
ZÉ-LEBRE: (Para bruscamente. Desapontado) O que foi?
BETO-TARTARUGA: (Levantando-se) Vou perguntar outra vez: Zé Lebre., você está aí? Não era para você
estar na África?
ZÉ-LEBRE: Nem me fale em África. Não quero mais saber de evangelismo.
BETO-TARTARUGA: O que aconteceu? E as pedrinhas na coroa?
ZÉ-LEBRE: Se você quiser, dou-as para você.
BETO-TARTARUGA: Puxa! Deve ter acontecido algo terrível lá na África.
ZÉ-LEBRE: Deus me abandonou. Foi isso. Ele nem quis saber de mim. Passei sede, frio, fome, fui preso e
até açoitado… Estive completamente abandonado.
BETO-TARTARUGA: E você não sente orgulho disso?
ZÉ-LEBRE: Você está maluco? Não, você é maluco! Não sei por que fico perdendo tempo com você.
BETO-TARTARUGA: Paulo, passou por provação semelhante. Houve uma ocasião em que ele e Silas, no cárcere, bastante feridos, cantavam louvores ao Senhor. Tenho certeza que eles não se encontravam em melhores condições que você.
ZÉ-LEBRE: Nem me fale nesses caras.
BETO-TARTARUGA: “Caras”?
ZÉ-LEBRE: Não quero mais saber deles. Não quero mais saber de Bíblia. Não quero mais saber de Deus.
BETO-TARTARUGA: Não fala assim.
ZÉ-LEBRE: Eu estava fazendo a obra dEle, e Ele me abandonou. Virou as costas para mim. A igreja que se
comprometeu em me sustentar, mandava-me uma oferta mensal que mal dava para a semana. Agora vou
usar minha velocidade para me manter longe da igreja.
BETO-TARTARUGA: Essas suas palavras me deixam triste. Onde está aquele teu entusiasmo?
ZÉ-LEBRE: Ficou do outro lado do Atlântico.
ETO-TARTARUGA: Se eu estou triste, o Senhor está muito mais triste ainda.
ZÉ-LEBRE: Ele não se importou com os meus sentimentos. Eu estava fazendo a obra que não era minha,
era dEle.
BETO-TARTARUGA: Acho que é melhor nós pararmos por aqui.
ZÉ-LEBRE: Eu também acho.
BETO-TARTARUGA: Você está ferindo muito o coração de Jesus (Zé Lebre. faz cara de pouco caso). Só que primeiro eu gostaria de perguntar uma coisa.
ZÉ-LEBRE: O que?
BETO-TARTARUGA: Antes de partir para o campo missionário, você orou a Deus para ver se isso era realmente a vontade dEle?
ZÉ-LEBRE: Orar… bom… nem precisei. Eu já sabia a resposta.
BETO-TARTARUGA: Será que era para África que Deus queria te mandar? Não poderia ser para evangelizar os vizinhos da tua rua?
ZÉ-LEBRE: Meus vizinhos eu queria deixar para os irmãos da igreja. Para os fracos, sabe? Eu queria ir para fora porque sou ligeiro e já havia aprendido vários idiomas em tempo recorde. Agora… até já joguei fora minha credencial de missionário.
BETO-TARTARUGA: Você com essa sua velocidade toma decisões precipitadas. Nunca espera um pouco. Não ora para saber se a decisão que vai tomar representa a vontade de Deus.
ZÉ-LEBRE: Olha! Você está embaralhando minha cabeça.
BETO-TARTARUGA: Se você orasse não teria feito tanta besteira. Se você tivesse pedido conselho ao seu pastor teria tomado uma decisão mais acertada.
ZÉ-LEBRE: Eu não queria… mas estou começando a concordar com você.
BETO-TARTARUGA: Nem todos foram chamados para o evangelismo no estrangeiro. Alguns são chamados para trabalhar nos bastidores. Esses não são menos importantes pois oram pelos que são chamados, dão ofertas generosas para missões, enviam correspondências com palavras de incentivo a esses missionários. Só que existem aqueles que são chamados. Eles não devem se negar de obedecer o chamado. Outros não são.
ZÉ-LEBRE: Acho que fui muito afobado.
BETO-TARTARUGA: Está fazendo jus ao nome. Você é afobado como uma lebre é ligeira.
ZÉ-LEBRE: (Cabisbaixo) É… em todas minhas decisões tenho sido precipitado. Acho que a África realmente não era para mim. Sempre quis usar a velocidade para impressionar. Eu queria abraçar o mundo com as pernas. Eu queria fazer tudo ao mesmo tempo. Resultado: deixava tudo pela metade. Acho que o único que teria o direito de ficar desapontado nessa história era Jesus.
BETO-TARTARUGA: Você precisa saber que antes da ação deve haver a oração.
ZÉ-LEBRE: Eu nunca queria perder tempo. Minhas orações eram relâmpagos. Eu não orava porque o tempo era curto, e eu queria aproveitá-lo ao máximo. Não me lembro de algum dia ter me sentado para ler a Bíblia. (Olhando para o céu) Senhor, perdoa-me pela minha negligência. Não quero mais ser assim. Não quero ser negligente na oração, no estudo de Tua palavra.
BETO-TARTARUGA: Ainda bem que você está começando a enxergar. Ainda não é tarde para um recomeço.
ZÉ-LEBRE: É! Eu quero ser mais produtivo na obra. Tartaruga, tem vaga para limpeza do banheiro de sua igreja.
BETO-TARTARUGA: Acho que a essa hora ainda não foi limpo.
ZÉ-LEBRE: Então vamos arregaçar as mangas.
BETO-TARTARUGA: Olha o afobamento.
ZÉ-LEBRE: Desculpe. Preciso vigiar nessa área.
BETO-TARTARUGA: E outra que a essa hora não vai ter ninguém. Não haverá uma plateia para te aplaudir.
ZÉ-LEBRE: Não quero saber o que os outros pensam. Eu quero fazer a obra do Senhor.
BETO-TARTARUGA: Estou sentindo cheiro de mudança na sua vida.
ZÉ-LEBRE: Vamos!
BETO-TARTARUGA: Vamos!
(Os dois vão até a saída.)
ZÉ-LEBRE: Mas primeiro vamos orar para saber por qual banheiro devemos começar.
BETO-TARTARUGA: Como assim?
ZÉ-LEBRE: Masculino ou feminino?

(Cortina.)

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