PROGRAMA DE CONTROLE DE QUALIDADE DO NATAL 

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O natal não é mais o mesmo.
Isso é percebido em muitas igrejas, nos lares(isso inclui a maioria dos lares cristãos).
É necessário tomar uma atitude, e, nesta peça de uma forma bem humorada vemos o Papai Noel preocupado com o futuro do natal.
Papai Noel é obrigado a fazer uma pesquisa de mercado para saber o quanto as famílias gostaram do Natal. 
 

Personagens: 
Papai Noel 
Pai 
Mãe 
Filho 
Filha 

Texto 
(Passou o Natal. Uma família está relaxando do conforto do lar.  
Os restos do churrasco ainda estão em pratos de plástico espalhados pela casa.  
Ouve-se o barulho de duas crianças jogando videogame – eles nunca aparecem) 
PAI:  Mas que delícia!  
Quase tão bom quanto o dia de Natal! 
FILHA:  Muito melhor.  
Eu prefiro muito mais um churrasco às ceias Natal que fazemos sempre.  
Por que não podemos fazem um churrasco no Natal? 
MÃE:  (Horrorizada) Porque é a tradição do Natal! 
FILHO:  Eu pensei que você iria gostar de mudar um pouco, colocar o papai para cozinhar ao invés de ficar pirando no fogão. 
PAI:  Sua mãe tem razão.  
Não podemos mudar as tradições. 
FILHA:  Quase não acredito que o Natal já passou… 
MÃE:  Pelos brinquedos quebrados espalhados pelo chão, eu poderia até acreditar que o Natal será amanhã. 
(Entra o Papai Noel, vestido a caráter, mas sem as renas e carregando um fichário.  
A família não acredita a princípio, pensando ser uma pegadinha.  
O Pai verifica a data no calendário.) 
PAI:  Você é mesmo o Papai Noel ou nós estamos na “Pegadinha do Faustão”? 
PAPAI NOEL:  Não, eu sou totalmente real.  
Eu sou o Papai Noel.  
Por favor, me perdoem por não estar com as renas, mas elas estão presas ao chão porque os controladores de tráfego aéreo estão ameaçando entrar em greve. 
PAI:  Mas por que você está aqui? (Aponta o fichário)  
Já está recolhendo os pedidos para o ano que vem? 
PAPAI NOEL:  Não, estou fazendo uma pesquisa.  
Eu também preciso acompanhar a evolução dos tempos.  
A moda agora é o “Controle de Qualidade e Satisfação do Consumidor”.  
Eles tomaram o meu certificado ISO 9000 e só vão me devolver depois que terminar isso.  
Então eu gostaria de fazer algumas perguntas, se me permitem, para verificar se o Natal foi tudo o que vocês esperavam de mim. 
MÃE:  Com certeza correu tudo bem conosco.  
Aqui, é muito quente aqui para você ficar usando esta roupa quente.  
Tire o casaco e beba alguma coisa gelada enquanto conversamos. 
PAPAI NOEL:  Obrigado.  
Bem, vamos primeiro para o óbvio:  
Presentes? Está tudo certo com eles? 
PAI:  O computador é um sucesso. (Indicando o barulho)  
As crianças o monopolizaram desde o momento que chegou.  
Imagine só, eu esperava que eles fizessem algo mais construtivo do que só ficar jogando.  
E nem isso eles fazem sem brigar. 
(Ouve-se o som de uma grande guerra e um barulho de alguma coisa quebrando vindo do quarto do computador.  
O Pai pula da cadeira) 
PAI:  (Gritando) Por que vocês não conseguem jogar por cinco segundos sem se matarem? (Sai correndo) 
FILHO:  Você fornece suporte técnico?  
Eu acho que nós vamos precisar. 
PAPAI NOEL:  Lamento, eu só os entrego.  
Eu não conserto. 
FILHO:  Eu pensei que você disse que era um controle de qualidade.  
Isso não inclui os serviços de pós-venda? 
PAPAI NOEL:  Sim, mas apenas se vocês usarem de acordo com as instruções do fabricante.  
E isso vai muito além dos brinquedos. 
FILHA:  Como assim? 
PAPAI NOEL:  Você já tentou aprender a usar um computador sem usar os guias de instalação? 
FILHA:  Não banque o espertinho… 
FILHO:  Eu sempre digo para ela que a melhor dica de todas é “Leia o manual”. 
PAPAI NOEL:  E você já ouviu alguém dizer “Não existem verdades. Só o que é certo para você”? 
FILHO:  Não, nunca.  
Já é difícil fazer direito seguindo o manual. 
PAPAI NOEL:  “Convergência de padrões” é a palavra chave de hoje em dia, eu acho. 
FILHO:  É claro!  
Senão nunca conseguiremos descobrir o verdadeiro potencial dos computadores. 
PAPAI NOEL:  Pena que não podemos aplicar esta lição para a vida toda. 
MÃE:  Isso é profundo demais para mim.  
Você perguntou sobre os presentes.  
Tenho certeza de que somos todos muito gratos por tudo o que ganhamos, nem os meninos reclamaram por não ganharem as mountain-bikes de 16 marchas, o carro do Ben 10, e o jogo “Destrua o Mundo” que pediram.  
Recebemos ótimos presentes, afinal, o Natal é sobre isso, certo? 
PAI:  (Volta com uma carta na mão) Rita!  
O que é esta fatura de cartão que eu encontrei na gaveta? 
MÃE:  (Pálida) Ah, deve ser a que entregaram na sexta… 
PAI:  Mas que valor é esse?  
Como foi que gastamos tudo isso?  
E além do mais, os pestes já explodiram o computador! 
MÃE:  Tenho certeza que podemos consertar isso.  
E nós tivemos um dia tão adorável no shopping fazendo as compras de Natal, não foi?  
E agora as vitrines estão tão bonitas, e é a época das ofertas agora! 
PAI:  E se eu ouvir “Jingle Bells” mais uma vez, eu vou matar alguém! (Para o Papai Noel)  
Você não pode fazer alguma coisa a respeito? 
PAPAI NOEL:  É difícil escrever uma música nova quando ninguém mais acredita nas palavras. “Paz na Terra”, mas por obra de quem?  
Os antigos escritores sabiam.  
Mas isso não conta mais hoje em dia.  
Me perdoem, às vezes eu fico meio saudosista durante estas pesquisas.  
Mas me digam como foi a ceia de Natal? 
PAI:  Uma grande reunião da família.  
Como manda o figurino, inclusive (sarcástico) se eu não soubesse o quanto gastamos.  
Vieram o meu pai e a mãe da Rita, e tivemos peru e pernil, a Árvore de Natal cheia de presentes e muita bebida.  
E tivemos muito tempo para nos sentarmos e conversar enquanto as crianças corriam em volta da casa com seus novos brinquedos. 
MÃE:  Eu tive um pouco de dor de cabeça, eu admito.  
A minha mãe está muito crítica ultimamente, ela achou defeito até na toalha de mesa.  
Eu até tive que ir deitar um pouco para diminuir o stress, e quando ela disse que eu estava muito preguiçosa…  
Deixa para lá…  
Depois de ficar acordada até sei lá que horas para embrulhar os presentes e preparar toda aquela comida. 
FILHA:  Pai, porque o vovô chorou na mesa? 
PAI:  Ele sempre fica meio sentimental quando bebe um pouco.  
Não ligue para ele. 
FILHA:  Eu o ouvi dizer algo tipo “Por que não podemos ser uma família o ano todo, ao invés de sermos somente no Natal?” 
PAI:  Eu já disse, ele está ficando meio senil.  
É por isso que tivemos de colocá-lo no asilo.  
Não temos tempo de ficar correndo pelo bairro procurando por ele, como aconteceu no Natal.  
E quanto a você, Papai Noel, você nos fez algumas perguntas, como é o Natal do seu ponto de vista? 
PAPAI NOEL:  Está ficando mais complicado a cada ano.  
Na verdade, não vejo muito futuro para mim.  
O “Politicamente Correto” será o fim do Natal. 
MÃE:  O que quer dizer? 
PAPAI NOEL:  Veja o meu nome, por exemplo.  
Antigamente eu era chamado Santo Nícolas ou São Nicolau.  
Naqueles dias eu era um bispo cristão onde hoje todos conhecem como Turquia.  
Então o nome foi mudado para Santa Klaus.  
Até que algum publicitário de bebida inventou o Papai Noel.  
Mas agora as feministas estão reclamando da palavra “Papai”, pois eu sou mais uma manifestação da – me desculpem – personificação da dominação masculina.  
E tantas crianças têm imagens ruins da figura paterna.  
Eu já disse que eles não têm nada a ver comigo.  
E eu ainda estou respondendo a alguns processos. 
MÃE:  Que processos? 
PAPAI NOEL:  Já fui acusado de quase tudo: estou sendo processado por propaganda enganosa, pois eles dizem que não estou entregando a promessa de “Paz e Boa Vontade”.  
E isso é mais um motivo de eu estar fazendo esta pesquisa.  
O PROCON está me processando por causa de brinquedos que se quebram quase um segundo após saírem das embalagens.  
E estes são os mais simples.  
Estou tendo que rebolar, e muito, por causa de alguns outros. 
PAI:  Como o quê? 
PAPAI NOEL:  Invasão de domicílio.  
Já que quase não existem mais chaminés, eu fui preso mais vezes do que posso contar por entrar por uma janela ou por uma porta trancada. 
FILHO:  E como é que você faz isso, afinal? 
PAPAI NOEL:  Segredo comercial… E pó de fada.  
Mas tem o mais estranho: eu quase tive um “troço” quando as pessoas começaram e me olhar torto nos shoppings, porque eu sempre ofereço doces para as crianças boas sentarem no meu colo.  
Aí vocês podem imaginar quando as agências de proteção à criança “entenderam” que eu estava assustando as crianças por entrar em seus quartos à noite.  
Tudo isso vai acabar, mesmo se eu sobreviver aos julgamentos. 
FILHO:  Isso é um clássico problema de marketing.  
Você só precisa se repaginar. 
PAPAI NOEL:  Vocês ainda nem ouviram o pior: Por causa da “Invasão de Privacidade”, eu não posso nem conferir se as crianças foram boas ou más durante o ano.  
Eu espero conseguir o bastante com esta pesquisa para conseguir contornar isso no ano que vem… 
FILHA:  Talvez seja até melhor que não. 
MÃE:  (Horrorizada) O que quer dizer? 
FILHA:  Está tudo muito comercial. (Para o Papai Noel) E você é a causa disso! 
PAPAI NOEL:  Não.  
Na verdade, eu sou apenas um sintoma. 
FILHA:  Como é? 
PAPAI NOEL:  Não é mais como quando eu era simplesmente o São Nicolau.  
Mas eles me fizeram a imagem do Natal, porque se recusam a aceitar o verdadeiro Rei do Natal.  
Eles já O mataram uma vez, há dois mil anos, porque não queriam aceitá-lO.  
E o pior de tudo, é que estão me usando para matá-lO de novo.  
(Levanta-se e vai para a saída, então para e se vira)  
Eu quase esqueci… (triste) Ho, ho, ho para todos. 
 

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